terça-feira, 16 de novembro de 2010

Intercâmbio do projeto “Quem Ouvirá o Canto das Quebradeiras?

“Venho te mostrar a minha vida, a minha história, o meu olhar, as minhas mãos tão calejadas de trabalhar... De coco eu me sustento e trago ensinamentos. Quebra o coco, quebrar... Estendo as minhas mãos, pra Deus meu coração. Eu quebro coco e também sei cantar...”




Assim inicia-se a labuta diária das quebradeiras de coco do Maranhão, que logo de madrugada desaparecem nas florestas de babaçu, a música é o instrumento utilizado para amenizar o cansaço e distrair enquanto o árduo trabalho é realizado. A vida dessas mulheres é marcada pelo descaso tido pelo seu trabalho, em que os dias no sol, sentadas na mesma posição por varias horas são pagos por poucos centavos. O lazer é restrito as festividades da igreja, visto que a ausência de espaços e praticas de cultura e lazer em comunidades rurais é evidente em nosso país.


“Quem Ouvirá o Canto das Quebradeiras?” é o nome do projeto que vem propor novas práticas artístico-sociais de lazer e formação para essas mulheres tão sofridas. O projeto é coordenado pelo Instituto Baixada, financiado pelo programa BNB/BNDES de cultura 2010, em parceria com o Instituto Formação e Impacto Cia. de Artes.


O objetivo do projeto é a formação de dois grupos de canto coral: no povoado de Manoel João, em Arari e no povoado de Buritirana, em Perimirim. Mensalmente são realizadas as formações de Canto Coral e de Expressão Corporal, fornecendo um espaço de entretenimento, integração e aprendizado.


O repertório utilizado são as músicas cantadas no cotidiano, durante o trabalho pesado, cantigas que resgatam todo o conteúdo do imaginário popular. Uma outra proposta do projeto é a realização de intercâmbios sistemáticos entre os dois grupos, de forma que eles possam trocar experiências, não só no canto, mas para que também conheçam o povoado, o trabalho, a trajetória de vida do outro.

O primeiro intercâmbio aconteceu de 21 a 24 de Outubro no povoado Manoel João, onde as quebradeiras de Buritirana foram recepcionadas com cantoria e passaram quatro dias de aprendizado e troca, com as oficinas de canto coral e expressão corporal.

O objetivo foi realizar uma reflexão sobre as facilidades e dificuldades encontradas no dia a dia de cada comunidade, buscando possibilidades de transformação de cada realidade através da música.


O primeiro dia aconteceu um diálogo inicial de apresentação da proposta do intercâmbio, fizeram os acordos, alojaram-se e foram conhecer a comunidade.


Dia 22 Christiane Almeida, profissional da área de música, realizou oficina sensibilização e iniciação musical para canto coral. O grupo da Buritirana gostou dos exercícios de voz e criou uma música que foi cantada pelos por todos e a letra disponibilizada para o grupo de senhoras da EFA estas, por sua vez, também cantaram uma música de autoria do grupo que foi disponibilizada para todos.

Christiane deixou ainda uns exercícios para serem trabalhados até a próxima formação.
No terceiro dia aconteceu oficina de expressão corporal com Samara e Claudio, pela manhã somente com o grupo da Buritirana e a tarde com todos, elas liberaram as energias e criatividade nos exercícios e no teatro fórum.


Depois houve dialogo sobre o projeto “Quem Ouvirá o Canto das Quebradeiras?”, explicando a proposta para as mulheres de Buritirana e as atividades previstas.

O último dia realizaram as atividades deixadas pela oficineira e retornaram para suas casas depois do almoço.


Todos as noites participaram de programação na comunidade, iam a reza, assistiram aos DVDs dos festejos e da quebra do coco.


O Coral das Quebradeiras do povoado Manoel João já fez sua estréia no espaço Circo da Cidade, em São Luis. “Foi bom demais, quase chorei de ver todo mundo em pé batendo palmas pra nós, parecia um sonho!” disse Maria Raimunda, uma das componentes do coral.


As expectativas dos dois grupos agora se voltam para o lançamento do CD dos corais no mês de janeiro, enquanto isso elas, donas dos seus destinos, continuam exalando melodias e poesias pelos babaçuais, não deixando o trabalho de lado, logo a intenção do projeto não é que elas deixem de ser quebradeiras, mas trabalhar a parte integral do ser, quem sabe assim faz-se valer a cantiga “Eu quebro coco e também sei cantar...”.

Por: Claudinei Gomes e Roberta Abreu
http://www.institutobaixada.org/

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