segunda-feira, 4 de julho de 2011

Latinfudiarios da Amazônia já estão dividindo imóveis rurais para driblar a obrigação de presevar

A possibilidade prevista na reforma do Código Florestal de desobrigar



as propriedades de até 4 módulos fiscais (20 a 400 hectares,


dependendo da região do Brasil) de manter áreas de reserva legal está


causando uma corrida aos cartórios para fracionar as propriedades em


glebas menores.





Jonne Roriz/AE–Terra arrasada. Área desmatada na Amazônia: a

fim de não manter vegetação nativa, proprietários de terra buscam

cartórios para fragmentar propriedades em glebas menores

Segundo oficiais de cartórios ouvidos pelo Estado, houve aumento de

até 10%, em algumas regiões, nos pedidos de fracionamento. O texto do

novo Código aprovado em maio pela Câmara dos Deputados prevê que as

propriedades menores não precisam manter a reserva legal - a área com

vegetação nativa que varia de 20% a 80% das terras.



Em Araçatuba (SP), ao menos oito donos de áreas rurais com mais de 4

módulos fiscais requisitaram o desmembramento de suas propriedades nos

últimos dois meses. Em Mato Grosso, donos de terras correm aos

cartórios em busca de informações sobre como ficar desobrigados de

terem a reserva legal. Tabeliães e auxiliares de cartórios confirmam

que houve um crescimento "grande", em torno de 8% a 10%, nesses

pedidos.



Com a divisão de suas terras, esses proprietários podem escapar da

obrigatoriedade de recomposição de reserva legal e de multas, caso o

texto da reforma do Código Florestal, aprovado em maio pela Câmara,

passe a valer.



"Os pedidos de fracionamento de imóveis estão ocorrendo desde que as

discussões sobre a reforma do Código Florestal começaram", diz Marcelo

Melo, diretor de Meio Ambiente da Associação dos Registradores

Imobiliários do Estado de São Paulo (Arisp) e oficial do cartório de

registros de imóveis de Araçatuba.



Dos oito pedidos de fracionamento que recentemente chegaram ao

cartório, Melo negou todos, porque não apresentaram as escrituras

públicas de compra e venda desses imóveis.



O fato de não apresentar escrituras levanta a suspeita de que esses

fazendeiros estejam mesmo tentando driblar a legislação. Pelo menos um

deles, segundo Melo, revelou, no balcão do cartório, que o motivo era

esse mesmo. "Neguei os pedidos porque o Estatuto da Terra proíbe o

desmembramento para a formação de minifúndios sem a apresentação da

escritura", disse.



Melo lembra que, no ano passado, o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP),

relator do texto aprovado na Câmara, prometeu incluir um dispositivo

legal no novo Código proibindo o fracionamento de fazendas para burlar

a legislação. "Ele prometeu, mas não cumpriu. Como deixou em aberto,

há essa possibilidade de se burlar a legislação."



Amazônia. Nos municípios que compõem a Amazônia Legal, onde a reserva

legal é de 80% da propriedade, a tendência se confirma. O escrivão

Vilson Henrique Mendes dos Santos, do Cartório do 1.º Ofício de

Cotriguaçu (MT), disse que os proprietários chegam sempre com a dúvida

do que será previsto na nova lei. "Querem saber se vai haver

desobrigação da reserva legal", diz. Segundo o escrivão, os

proprietários são orientados a aguardar. "Ninguém ainda sabe", disse.



Donos de cartórios de Nova Ubiratã e Sorriso, regiões produtoras de

soja, confirmam ainda que caíram os pedidos de registro de reserva

legal, o que indica que produtores estão na expectativa quanto ao novo

Código. "É preocupante que proprietários transfiram parte da matrícula

dos imóveis para parentes de "confiança". Sem reserva legal, quem

perde é o ambiente", diz Bruno Becker, oficial do cartório de Nova

Ubiratã, município que esteve no epicentro do recente pico de desmate

que ocorreu em Mato Grosso.



Oportunismo. Segundo Rodrigo Lima, pesquisador do Instituto de Estudos

do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), o texto aprovado na

Câmara não esclarece se os proprietários que estão desmembrando seus

imóveis ficarão livres de recompor a reserva legal. "É um ponto que

terá de ser discutido no Senado", diz Lima. "Isso (fracionamento dos

imóveis) é oportunismo, como quem está desmatando por antecipação

pensando que será anistiado pelo novo Código", diz Lima.



Na avaliação de Cláudio Maretti, líder da iniciativa Amazônia Viva da

ONG WWF Brasil, a corrida aos cartórios demonstra má-fé. "O grande

problema não é a reforma do Código Florestal em si e sim a criação da

imagem de que o Brasil precisa desmatar para continuar sendo uma

potência agrícola."
 
Por: Andrea Vialli - O Estado de S.Paulo

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