quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Peixe-boi: a natureza dócil


Peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) descansando em Three Sisters Springs, Florida, enquanto faz sombra para um cardume de peixes. Crystal River National Wildlife Refuge (Refúgio nacional da Vida Silvestre de Crystal River). Foto: Keith Ramos/USFWS Endangered Species/Flickr
Para os navegadores da Antiguidade, a anatomia do peixe-boi, com sua cauda, lembrava a figura mitológica das sereias. Ou talvez sejam eles a origem desta lenda. Seja como for, a nomenclatura da ordem a que este animal pertence foi denominada no latim científico Sirenia (sereia) e os próprios peixes-bois, sirênios. 

Os peixes-boi, apesar do nome, não são peixes, mas sim, mamíferos aquáticos. Também conhecidos como vacas-marinhas ou manatis, estes animais guardam um ancestral comum próximo aos elefantes. Talvez isto explique porque estes mamíferos da família Trichechidae podem chegar a medir até 4 metros de comprimento e pesar 800 kg.

Além do peixe-boi-marinho, Trichechus manatus, amplamente distribuído nas Américas, inclusive no Brasil, são conhecidas duas espécies e duas subespécies de peixe-boi: o peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis), natural das águas doces e costeiras do oeste da África; peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), animal fluvial que vive nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco; as subespécies Trichechus manatus manatus, nas Antilhas e Trichechus manatus latirostris, na Flórida. Eles geralmente habitam águas costeiras e estuarinas quentes e rasas, bem como pântanos.

Mesmo com um corpo robusto, maciço, sua cauda achatada lhes permite nadar numa velocidade de 5 a 8 km/h (1,4 a 2,2 m/s) e realizar manobras com incrível fluidez. A coloração do corpo varia entre acinzentada e marrom-acinzentado e seu couro é áspero. Seus pequenos olhos são capazes de reconhecer cores e a audição se dá através de dois pequenos orifícios localizados um pouco atrás dos olhos. Outra característica do peixe-boi é a habilidade de emitir pequenos gritos ou cantos, chamados vocalizações. Uma variada gama de sons permite comunicação entre as fêmeas e os machos durante o contato sexual, mas também entre os adultos durante jogos e comportamentos habituais, e entre adultos e prole. 

É um animal com uma taxa reprodutiva muito baixa. O período de gestação das fêmeas dura 13 meses, após os quais a mãe amamenta o filhote durante um período de 1 a 2 anos. Ela tem apenas um filhote a cada 4 anos, uma vez que só voltará ao período reprodutivo um ano após o desmamar. Esta, junto com a época do acasalamento, é das poucas ocasiões em que verá grupos ou pares, são animais de hábitos solitários, raramente vistos em grupo.

Herbívoros, os sirênios precisam ingerir grandes quantidades de alimento, comendo de 8 a 13% do seupeso corporal por dia, atividade que ocupa de 6 a 8 horas diárias. Sua dieta consiste de algas, aguapés, capins aquáticos entre outras vegetações aquáticas. São animais muito mansos e, por este motivo, são facilmente caçados e se encontram em risco de extinção.

Embora os peixes-boi possuam poucos predadores naturais (tubarões, crocodilos, orcas e jacarés), todas as três espécies de peixe-boi (Trichechus manatusTrichechus senegalensis Trichechus inunguis) estão listadas pela IUCN como vulneráveis à extinção. Caça, capturas acidentais, perda do hábitat, desmatamento, trânsito de embarcações e o assoreamento dos estuários onde as fêmeas dão à luz os filhotes também são ameaças à sua sobrevivência.

Em todos os países com populações existentes foram nstituídas leis protetora com algum esforço para a conservação através de agências governamentais e / ou organizações não-governamentais. Em alguns países, os esforços têm aumentado significativamente na última década. As duas espécies de peixe-boi brasileiras, o Trichechus manatus, peixe-boi-marinho que se encontra criticamente ameaçado de extinção pelo ICMBio, e o Trichechus inunguis, peixe-boi-da-amazônia considerado como vulnerável à extinção pelo mesmo órgão, são alvo de três planos de conservação: PAN SirêniosPAN Xingu e PAN Manguezais.


Por: Rafael Ferreira
http://www.oeco.org.br

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