Estudo afirma que devido à sua biodiversidade, importância para a segurança alimentar e número de habitantes, praticamente toda a costa atlântica do Brasil deveria receber mais recursos para ações de adaptação às mudanças climáticas.
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Mapa com as 10 regiões prioritárias / PLOS One

O Fundo Climático Verde, mecanismo da ONU que promete repassar recursos para as nações em desenvolvimento se prepararem para as consequências das mudanças climáticas, ainda apenas existe de forma precária e, justamente por isso, classificar as regiões prioritárias para receber os poucos investimentos disponíveis é muito importante.
Nesse sentido, um estudo publicado nesta semana no periódico Plos One promete ser uma boa base para escolher onde alocar os financiamentos para ações de adaptação e mitigação climática.
O trabalho, realizado por um grupo internacional de cientistas liderado pelo biólogo norte-americano Lee Hannah, do Centro Betty e Gordon Moore para Ciências e Oceanos, identificou as dez regiões que deveriam receber mais atenção devido a critérios que levam em conta a biodiversidade, a produção de alimentos, a quantidade de habitantes e a vulnerabilidade às mudanças climáticas.
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1 – Albertine Rift / Conservation-strategy.org. 2 – Filipinas / Wikimedia commons. 3 – Mata Atlantica / Apremavi. 4 – Chocó Geográfico / Wikimedia commons.
As regiões e os ecossistemas prioritários:
  • Albertine Rift / Vale do Rift – Zaire, Burundi, Tanzânia e Uganda (Florestas de Afromontane)
  • América Central – México, Guatemala, Honduras, Nicarágua (Mesoamérica; Bosque de pinheiros na Sierra Madre Ocidental)
  • Andes – Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru (Andes tropicais e Chocó biogeográfico)
  • Caribe – Jamaica, Haiti, Dominica, Porto Rico, Venezuela (Ilhas caribenhas)
  • Costa Atlântica do Brasil – Brasil (Mata Atlântica)
  • Ghats – Índia (Ghats Ocidentais, Sri Lanka)
  • Filipinas
  • Java – Indonésia (Wallacea)
  • Madagascar – (Madagascar e Ilhas do Oceano Índico)
  • Terras altas da Guiana – Venezuela (Andes tropicais)
Segundo o estudo, essas dez regiões são únicas, pois reúnem, por exemplo, 70% de todas as espécies mundiais de pássaros, ao mesmo tempo que são lar de 10% da população mundial que vive em pobreza.
Além disso, para chegar à lista, os pesquisadores calcularam o número de espécies que serão perdidas de acordo com os modelos climáticos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e a queda da produção agrícola diante do aquecimento global prevista pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Apesar de destacar essas regiões como prioritárias, os pesquisadores não querem que outras áreas, como o Ártico, deixem de receber recursos.
“Vejo essas regiões como novos locais que devem ser adicionados à lista de recebedores de fundos, e não que deva existir uma competição pelo financiamento. Se pudermos proteger essas regiões onde a segurança alimentar e a biodiversidade estão sendo afetadas, tiraremos lições que podem ser utilizadas em todo o mundo e que nos ajudarão a alimentar os pobres e preservar espécies raras”, declarou Hannah.
As possibilidades de adaptação para essas regiões, incluindo para o litoral brasileiro, passam por uma maior integração entre a agricultura e os ecossistemas, explica o estudo.
Por exemplo, atividades agroflorestais podem ajudar a reduzir as temperaturas do solo mesmo diante da elevação das temperaturas do ar, e, com a escolha certa das espécies de árvores, ainda fornecer habitat para pássaros e outros animais.
O reflorestamento também é uma solução para lidar com a falta de água em regiões agrícolas que sofram com o declínio da precipitação, ajudando na manutenção da umidade do solo.
“Os fundos para adaptação às mudanças climáticas podem ser mais efetivos se buscarem objetivos integrados, mas ainda não há uma boa caracterização das prioridades geográficas baseada em critérios ecológicos e de desenvolvimento múltiplo. Aqui mostramos que a adaptação humana e da natureza precisam ser relacionadas para manter a produtividade agrícola e a integridade do ecossistemas”, conclui o estudo.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.