sábado, 3 de outubro de 2015

Mais uma vez índios Ka’apor denunciam a contínua omissão do Estado

De acordo com nota divulgada pelo Conselho Ka’apor, grupos armados tem sido avistados nas proximidades da aldeia onde, há alguns meses, foi assassinado Eusebio Ka'apor. Pressão de madeireiros continua intensa e marcada pela negligência do Estado

Ka'apor queimam madeira ilegal encontrada perto do território indígena (© Lunae Parracho / Greenpeace)














Nesta quarta-feira (23) o Conselho de Gestão Ka’apor soltou mais uma carta pública denunciando novas ofensivas contra a população indígena e a ausência do poder público na região. De acordo com o grupo, homens armados vem rondando algumas aldeias e o grupo tem enfrentado dificuldades para se movimentar entre as aldeias e pela cidade em segurança. 
Na carta, o grupo lembra que desde 2013 vem realizando ações particulares de monitoramento e guarda de seu território, já que, mesmo com sucessivas denúncias, não houve resposta das autoridades.
“Depois de iniciar muito forte a fiscalização, limpeza de nossos limites, encontramos madeireiros, fazendeiros, estaqueiros, caçadores e posseiros que usavam nosso território sem autorização da gente. Esses agressores usavam e usam os limites ou áreas dentro de nosso território com permissão de funcionários da Funai, de prefeituras, do INCRA e de sindicatos para tirar madeira, colocar pastos, colocar roças grandes, tirar estacas para fazendas, para movelarias, para ceramicas, para panificadoras nas cidades”, revela o documento.
A carta detalha, ainda, que nas áreas retomadas pelos indígenas foram criadas ocupações, com finalidade de reflorestamento e controle do território. “Mas, depois que a gente criou essas áreas de proteção, agora a gente vem sendo impedido, perseguidos e até ameaçados de entrar nessas áreas por fazendeiros, pistoleiros, posseiros (incentivados por madeireiros e fazendeiros), alguns assentados do INCRA que, pressionados por madeireiros e fazendeiros, tem vendido seus lotes permitido a destruição de suas reservas”, ressalta.
De acordo com a denúncia, as principais áreas de conflito encontram-se nos municípios de Centro do Guilherme, Maranhãozinho, Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda do Maranhão, Araguanã e Zé Doca.
Os indígenas relatam também que, desde semana passada, um grupo de seis homens armados, em três motos, foram vistos mais de uma vez na estrada que dá acesso a Aldeia Ximborenda, onde Eusebio Ka'apor foi assassinado em abril deste ano. O crime continua sem solução.
Há algumas semanas o Greenpeace esteve com os Ka’apor, para trabalhar junto com o grupo, que passou a integrar o uso de tecnologia às atividades autônomas de monitoramento e proteção do seu território tradicional. Entre as ferramentas sugeridas e adotadas pelas lideranças Ka’apor estão mapas mais precisos, armadilhas fotográficas e rastreadores via satélite. 
“Essa ação ajuda a melhorar o controle dos indígenas sobre seu território, mas enquanto o poder público não fizer sua parte, proporcionando segurança, aumentando a fiscalização e investigando esses crimes bárbaros no campo, a violência nunca terá fim”, afirma Marina Lacôrte, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Até quando ouviremos as denúncias e apelos do povo Ka’apor, sem que nada seja feito?”, questiona.

http://www.greenpeace.org/

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