segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Estiagem castiga região da Baixada Maranhense


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Área cuja maior característica são os rios e lagos, sofre com El Niño; peixes estão morrendo esturricados e outros tantos sendo remanejados para lagos artificiais
Uma das regiões mais ricas em rios e lagos do Maranhão pede socorro. A Baixada Maranhense, conhecida por seus campos alagados, está vivendo uma das piores secas já testemunhadas por seus moradores em mais de 30 anos. Rios perenes e caudalosos, como o Turiaçu, Pericumã e Paruá, hoje, em alguns pontos, são apenas filetes, se comparados aos quilômetros de largura que alcançam na época das cheias. A situação está tão crítica que, aos 40 anos de idade, o pescador José de Ribamar Costa vê, pela segunda vez em sua vida, trechos das margens do Rio Paruá secas. A outra foi aos 7 anos de idade, em 1982, quando a região sofreu uma das piores estiagens já registradas pela história.
Na região, a imagem que se vê por todos os campos, outrora alagados, é sempre a mesma: vários e vários quilômetros a perder de vista de planícies esturricadas intercaladas por manadas de bois, que comem o que resta da grama cinza, barcos e mais barcos parados, emborcados em terra, e aqui e ali alguns bolsões de água e fios dos rios que teimam em seguir seu caminho.

Peixes
E toda esta situação tem contribuído para que toneladas de peixes, que são a principal fonte de renda e subsistência da população local, morram sufocadas em lamaçais e expostas ao sol forte típico da região, com temperaturas médias de 30ºC. Os pescadores só lamentam que não possam fazer muita coisa, apenas observar. “Dá muita tristeza ver o peixe escumando e morrendo”, ressalta Antônio José, de 39 anos, que morava numa ilha, às margens do Rio Paruá.
Morava, porque desde outubro, com o início do período da seca, sua ilha virou apenas um montinho em meio às vastas planícies. Sentado em sua rede, ele olha ao longe os filetes de água e revela que já fez até uma pequena plantação, de milho e mandioca, para tentar passar o período do defeso, mas que espera pacientemente a chuva para que as sementes comecem a brotar.
De acordo com a professora doutora Zulimar Marita Ribeiro Rodrigues, a Baixada Maranhense é uma importante região do estado do Maranhão, onde as belezas naturais e recursos socioeconômicos demonstram sua singularidade e valor. A região compreende 23 municípios e sua principal característica são os campos inundáveis de água doce, que recebem a influência das marés, durante boa parte do ano.
Daí que, nos períodos de janeiro a junho, época chuvosa, os campos geralmente são cheios, com os rios largos e milhares de lagos e lagoas onde borbulha a vida. Nos períodos de estiagem, os campos começam a secar, mas, mesmo assim, há vários anos que este período não durava tanto tempo.
De acordo com Andréa Cerqueira, meteorologista do Núcleo Geoambiental da Universidade Estadual do Maranhão, o principal responsável por esse período prolongado é o El Niño. Entre novembro e dezembro do ano passado, o fenômeno meteorológico atingiu sua maior magnitude, igualando-se aos acontecidos em 1997/1998 e 1982/1983, os mais intensos já registrados.
A principal consequência do El Niño sentida na Região Nordeste é justamente a falta de chuvas. Daí, a explicação para esta seca prolongada na baixada. E a previsão climática não é das melhores para a região. Segundo a pesquisadora, é provável que ainda sintamos a influência do El Niño até março, daí que a probabilidade de chuvas, não só na Baixada, mas em todo o Maranhão e Nordeste será bem abaixo do normal.
“As chuvas ocorrerão, porém mal distribuídas tanto no tempo quanto no espaço. Isso significa que pode ocorrer concentração de chuva em curtos períodos de tempo e em áreas isoladas”, destaca a previsão climática para o primeiro trimestre de 2016.



Saiba mais
O fenômeno El Niño é ocasionado pelo aquecimento da superfície da água na porção leste do Oceano Pacífico e está associado a secas extremas, tempestades e inundações em diferentes partes do globo. O fenômeno climático El Niño de 2015/16, um dos três mais fortes dos últimos 50 anos, atingiu seu ápice nas últimas semanas.

ADRIANO MARTINS COSTA (O ESTADO DO MARANHÃO)

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