quinta-feira, 27 de abril de 2017

Consulta Pública sobre a Reserva Extrativista do Itapetininga tem ampla participação popular em Bequimão



Foi realizada, na última terça-feira (25), uma Consulta Pública sobre a proposta de criação da Reserva Extrativista do Itapetininga (Resex do Itapetininga), em Bequimão. A Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) coordenaram os trabalhos, com ampla participação popular.
Para que a população conhecesse melhor a proposta, houve um debate acerca do uso sustentável dos recursos naturais na reserva, que vai abranger 14 comunidades extrativistas.
Segundo a representante do Instituto Chico Mendes, Karina Soares, a administração municipal tem demonstrado grande interesse em constituir a Resex do Itapetininga. “Houve um pedido do município, através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, juntamente com a Colônia e o Sindicato de Pesca, solicitando a criação de uma reserva extrativista, que é uma categoria de unidade de conservação, voltada para a melhoria da qualidade de vida da população e para uso sustentável de recursos da área. O Itapetininga foi escolhido através de oficinas, pela importância que ele tem para os extrativistas que estão à margem do rio”, destacou Karina Soares.
O prefeito de Bequimão, Zé Martins, comentou o impacto positivo dessa reserva para as pessoas que tiram seu sustento da natureza. “A criação dessa unidade de conservação vai beneficiar várias comunidades quilombolas que estão localizadas nessa área. Isso ajuda muito mais o movimento, que tem um olhar significativo da nossa gestão. Essa unidade também abrange outros povoados, que são as comunidades pesqueiras, facilitando ainda mais as políticas públicas que estamos buscando para oferecer aos moradores dessas comunidades. A Resex do Itapetininga ainda vai nos ajudar a desenvolver Bequimão na área do turismo ecológico”, enfatizou Zé Martins.
A criação da Resex assegura direitos aos trabalhadores rurais, como adimpli a representante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Coordenadora Nacional do Centro Nacional de Populações Tradicionais, Gabriele Soeiro. “É a garantia do território, a conservação da biodiversidade e a conservação do ecossistema manguezal. Essa unidade criada deve preservar o meio ambiente e criar empoderamento das populações tradicionais que habitam nesse território”, explicou.
Das nove reservas extrativistas decretadas a serem criadas no Maranhão, das quatro que ficam nas regiões da Baixada e Litoral Ocidental, duas ficam em Carutapera e Bequimão. As outras duas criadas anos atrás ficam em Mirinzal e Cururupu.
“É importante a criação da reserva extrativista, que vai manter os recursos naturais que irão beneficiar as comunidades. E isso é importante, principalmente nesse cenário que vivemos de muita degradação ao meio ambiente e muitos países com crise hídrica. É uma proteção que vai propiciar a duração desses recursos ao longo tempo, para as futuras gerações” , disse o representante do Ministério do Meio Ambiente, Luís Fernando Loureiro.
Participaram do evento secretários municipais, estudantes professores e diretores da rede pública, representantes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Sindicato dos Pescadores Artesanais e Colônia de Pescadores, além de vereadores, autoridades municipais, estaduais e federais, representantes do ICMBio, Sismubeq, Sindicato dos Agentes Saúde, Associações Quilombolas, MOQBEQ, representantes da Paróquia de Santo Antônio, representantes do IFMA de Pinheiro, Presidente do Conselho Municipal de Educação, Conselho Comunitário do Paricatiua, representantes do Assentamento Padre Paulo, Alberto Cantanhede (Comissão Nacional de Reservas Marinhas), lideranças comunitárias  e comunidade em geral.
por A Tribuna de Bequimão

Inscrições para o Conselho Estadual de Meio Ambiente acontecem até 03 de maio




Você representante de empresas e sociedade civil organizada quer fazer algo em prol do meio ambiente? Então, não perca essa oportunidade. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) abre inscrições para o processo eleitoral de preenchimento das vagas de Membro Titular e Membro Suplente para composição do plenário do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA), no triênio de 2017 a 2020. 
 
As entidades interessadas e seus respectivos participantes podem realizar sua inscrição até o dia 03 de maio de 2017, com a apresentação de vários documentos.  Confira Edital, lista de documentação e formulário de inscrição AQUI
 
Os documentos podem ser encaminhados por meio digital (em formato pdf), através do e-mail consema.ma@hotmail.com ou endereçados à Comissão Eleitoral, sendo entregues no Setor de Protocolo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA), de segunda à sexta-feira, no horário das 13h às 19h.
 
De acordo com a portaria n º 012, de 24 de fevereiro de 2017 (disponível no site da SEMA), o processo eleitoral será para preenchimento de 24 vagas, sendo: oito para Titulares do Segmento Empresarial; oito para Suplentes do Segmento Empresarial; oito para Titulares do Segmento da Sociedade Civil Organizada e oito para Suplentes do Segmento Sociedade Civil Organizada. 
 
A eleição acontecerá no dia 22 de junho de 2017, das 8h às 18h, na Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA). Maiores informações por meio dos telefones: (98) 3194-8900/ (98) 91778880.
 
O Consema
O Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA tem a finalidade de deliberar, no âmbito de sua competência, sobre as diretrizes e políticas públicas garantindo o equilíbrio e a melhoria da qualidade ambiental, prevenindo a degradação do meio ambiente em todas as suas formas, maximizando os seus efeitos desejáveis, impedindo ou minorando impactos ambientais negativos e implementando a recuperação do meio ambiente degradado.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Bequimãoenses são convocados para consulta pública sobre Reserva Extrativista do Itapetininga, nesta terça-feira (25)



Os bequimãoenses estão sendo convocados para participar da Consulta Pública que vai discutir a criação da Reserva Extrativista do Itapetininga (Resex do Itapetininga), nesta terça-feira (25), às 9h, na sede da Colônia dos Pescadores e Pescadoras de Bequimão, no bairro Estiva. A Prefeitura Municipal de Bequimão e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são os promotores da consulta, com apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (Sematur)
A área de abrangência da Resex do Itapetininga compreende cerca de 1.052 famílias, em 14 povoados, área de influência direta da microbacia do rio Itapetininga até as proximidades com a Baía de Cumã, limite com Guimarães e a BR-308. A Resex funcionará como Unidade de Conservação, que tem como princípio o uso sustentável dos recursos naturais, envolvendo as comunidades que sobrevivem do extrativismo e que devem participar das decisões a serem tomadas sobre a Reserva.
O processo de criação da Resex iniciou ainda em 2007, com a solicitação ao ICMBio. Foram feitos abaixo-assinados, oficinas nos povoados e a realização dos estudos socioambientais e do levantamento fundiário da área, bem como de suas delimitações.
CONSULTA PÚBLICA
A Consulta Pública é um procedimento obrigatório para a implantação de unidades de conservação (UCs), exceto para as reservas biológicas e estações ecológicas. São momentos em que todos os setores da comunidade, interessados no tema, podem tirar suas dúvidas e expor sua opinião sobre o assunto. Na terça-feira, dia 25, serão apresentadas a proposta de criação da Resex do Itapetininga,  os trabalhos técnicos que subsidiam a extensão, limites e zoneamento da reserva e os propósitos da nova área protegida. Todas as dúvidas da comunidade serão esclarecidas pelos representantes do ICMBio durante o encontro.
Além da comunidade em geral, foram convidados para o evento representantes dos órgãos ambientais locais, instituições públicas federais, estaduais e municipais, organizações não governamentais  (ONG’s), proprietários de terras e representantes dos setores produtivos da região.

O QUE É UMA RESERVA EXTRATIVISTA?
As Reservas Extrativistas (Resex) são espaços territoriais protegidos, cujo objetivo é a proteção dos meios de vida e a cultura de populações tradicionais, bem como a garantia do uso sustentável dos recursos naturais da área. O sustento destas populações se baseia no extrativismo e, de modo complementar, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte.
A área das RESEX pertence ao domínio do poder público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais. As áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. As atividades devem ter bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na reserva, conforme o disposto em regulamento e no seu Plano de Manejo.
A unidade é gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. As Reservas Extrativistas foram introduzidas pela Lei 9.985/2.000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), por sua vez regulado pelo Decreto nº 4.340/2002.

Por: SEMATUR/Bequimão

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Dia de luta dos Povos Indígenas do Brasil, 19 de abril


"Estamos nesse momento crucial, sob o fogo cruzado dos ruralistas, mineradoras, madeireira e piratas de toda espécie". Foto: Laila Menezes / Cimi
Por Egon Heck, do Secretariado Nacional
Outubro de 1988. Memorável conquista dos povos indígenas na Constituição. Pela primeira vez após a fatídica invasão primeira, os povos originários se mobilizaram para garantir seus direitos na Carta Magna. Comemoraram, porém sem ilusão. Essa seria uma das etapas na dura luta por seus direitos.


Dormiram ao acalanto da conquista, porém de olhos abertos, pois os inimigos seculares queriam ludibriá-los novamente. Cederiam no papel, mas continuariam a invasão, a violência, o saque dos recursos naturais. Ou seja, rasgariam a Constituição, na prática. E se preciso fosse, jogariam a lei no lixo ou a rasgariam em plena luz do dia, sem o menor escrúpulo ou temor. Estamos nesse momento crucial, sob o fogo cruzado dos ruralistas, mineradoras, madeireira e piratas de toda espécie. 

Cínica e descaradamente, buscam suprimir os direitos indígenas e outras conquistas sociais da Constituição. O que deveria ter sido cumprido está sendo rasgado. Estamos em tempo de tentativa de retrocesso, sob o fogo cruzado, numa guerra sem tréguas.

Abril Indígena
O movimento indígena com apoio de seus aliados vem se articulando e mobilizando para esse permanente enfrentamento com as forças e interesses  que  tudo fazem para suprimir direitos constitucionais indígenas. De forma racista vem disseminando ódio e preconceitos. Talvez seja esse o momento mais feroz contra os povos indígenas desse último meio século.


Mensagem dos povos indígenas aos parlamentares e ao governo que não permitiriam a supressão de seus direitos constitucionais. Foto: Laila Menezes / Cimi

Por outro lado, é gratificante e esperançoso ver o crescimento da consciência dos povos originários na luta por seus direitos e suas alianças com aquelas forças que buscam uma transformação social na perspectiva do Bem Viver, do reconhecimento do Estado Plurinacional e da democracia que brota das comunidades e suas múltiplas expressões de organização e poder. Quem sabe dessa forma poderemos começar a enfrentar com eficácia o mar de corrupção que envergonha e conspurca o nosso país.


Nos últimos quatro anos os povos indígenas de todo o Brasil participaram das delegações que vieram à capital federal para dizer aos parlamentares e ao governo que não permitiriam a supressão de seus direitos constitucionais.


Hoje é um dia de luta e mobilização pelos seus direitos em aliança com todos os que lutam para construir um Brasil justo e plural. Foto: Laila Menezes / Cimi

Acampamento Terra Livre

Com muita emoção recordo a importante participação dos povos indígenas nos Fóruns Sociais Mundiais, em Porto Alegre, no início deste novo milênio. Ali foi definido que seria necessário dar passos mais efetivos no sentido de consolidar a luta pelos territórios indígenas, criando uma espécie de articulação nacional, um grito de guerra e de vida. 

Foi então que, a pedido dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, de Roraima, se passou a realizar um acampamento anual, em nível nacional, para dar visibilidade à sua luta pelo território contínuo e não a demarcação em ilhas. Conseguiram a vitória histórica da homologação desse território, em 2006. Foi então a vez de fazer pressão pela demarcação das terras dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, de maneira especial dos Kaiowá Guarani e Terena. Foi então realizado o Acampamento Terra Livre (ATL) em Campo Grande-MS e em Altamira, em apoio aos direitos dos Povos Indígenas atingidos pela hidrelétrica de Belo Monte.

Esse é o 14º Acampamento Terra Livre acontecendo num dos momentos mais dramáticos para os povos indígenas e os movimentos sociais. De parte do movimento e organizações indígenas, a expectativa é de que se reúnam representantes de mais de cem povos indígenas de todo o país, com cerca de 1500 participantes. Menor apenas do que a Marcha e Conferência do ano 2000, quando estiveram reunidos em Coroa Vermelha, no litoral da invasão, quase 3000 indígenas de mais de duzentos povos.

 “Unificar as lutas em defesa do Brasil indígenas é o objetivo maior da mobilização deste ano [...]reunindo em grande assembleia lideranças dos povos e organizações indígenas de todas as regiões do Brasil. Neste momento de ameaças e violações dos direitos constitucionais e originários dos povos indígenas e das políticas anti-indígenas do Estado brasileiro”, afirma a convocatória da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) ao acampamento.
O ATL é um importante momento de articulação entre lideranças de todo país e de incidência política do movimento indígena. 

Para os povos indígenas do país, hoje é um dia de luta e mobilização pelos seus direitos em aliança com todos os que lutam para construir um Brasil justo e plural.

Por: CIMI

Depois de sete anos de recuperação, peixe-boi da Amazônia é solta

Helena pesava 90kg e media 1,70m no momento da soltura. Foto: Amanda Lelis
Helena pesava 90kg e media 1,70m no momento da soltura. Foto: Amanda Lelis
Peixes-boi são bichos grandes. Eles pesam de 400 a 550 kg e o seu couro muito grosso é uma defesa, que desencoraja a maioria dos predadores. Os peixes-boi-amazônicos (Trichechus inunguis) foram caçados em escala industrial desde o Brasil Colônia e há registros de sua carne e óleo sendo exportados do então Grão Pará no século XVII. E hoje os peixes-boi continuam sofrendo com a caça desenfreada de seus algozes. Mas, o que será relatado nas próximas linhas trata-se de uma história real de sucesso pela preservação dessa espécie.
Levaram sete anos para que a peixe-boi Helena, que em 2010 foi levada ferida para o Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária, fosse devolvida sã e salva à vida em ambiente natural. No dia 13 de abril, Helena foi solta no Igarapé do Juá Grande, localizado na Reserva Mamirauá, unidade de conservação do Amazonas.
Durante esses sete anos, Helena recebeu os cuidados dos pesquisadores e técnicos do “Centrinho”, como é chamado o Centro de Reabilitação, que foi criado pelo Instituto Mamirauá, em 2008. Na época, quando encontrada ferida pelos moradores da região, a peixe-boi tinha cerca de três meses.
Helena passou por um processo de recuperação diferente dos demais animais que ficam cerca de dois anos em reabilitação. A longa duração dos seus cuidados deveu-se às condições nas quais ela foi encontrada, apresentando muitas sequelas devido aos ferimentos e quadro de infecção. Esse longo tempo foi necessário para que a peixe-boi tivesse plena capacidade para a vida livre. A peixe-boi faz parte de uma enorme história de recuperação e sucesso, que deixa os profissionais envolvidos nesse processo muito felizes.
"Ela teve uma melhora extraordinária. Chegou muito debilitada, ferida com uma flechada na mandíbula, que acabou comprometendo o nervo facial. Por isso, ela perdeu a visão de um olho, teve muita dificuldade até conseguir fechar completamente as narinas e principalmente a mastigação, dificuldade pra pegar a mamadeira e mordiscar as plantas. Digo extraordinária, porque, quando ela chegou, a gente não sabia se ia sobreviver, por causa desta dificuldade grande", explica Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O Igarapé do Juá Grande, na Reserva Mamirauá, onde Helena foi solta, não foi escolhido aleatoriamente. O local apresenta disponibilidade de vegetação para alimentação nesta época do ano, primeiro período de adaptação do peixe-boi na natureza, e tamém porque a área foi o reduto escolhido por Japurá, outro peixe-boi solto pelo Instituto Mamirauá, há dois anos. Há um otimismo entre os pesquisadores de que os dois animais se encontrem.
Antes da soltura, Helena foi pesada, medida e em sua cauda foi adaptado um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio. O cinto emite um sinal que permite ser monitorado pelos pesquisadores em ambiente natural.
Esse foi o quinto evento de soltura de peixes-boi reabilitados pelo Instituto Mamirauá. Através do monitoramento, os pesquisadores buscam a compreensão de como os animais se movimentam na área e acompanham o desempenho de adaptação dos indivíduos em vida livre, fora do cativeiro.
Antes da soltura, é instalado um cinto que emite sinais de rádio que podem ser rastreados pelos pesquisadores. Foto: Amanda Lelis
Antes da soltura, é instalado um cinto que emite sinais de rádio que podem ser rastreados pelos pesquisadores. Foto: Amanda Lelis
O peixe-boi foi transportado em uma lancha aos cuidados de veterinários até o local da soltura. Foto: Amanda Lelis  O peixe-boi foi transportado em uma lancha aos cuidados de veterinários até o local da soltura. Foto: Amanda Lelis
Helena foi solta em um igarapé na Reserva Amanã. Foto: Amanda Lelis
Helena foi solta em um igarapé na Reserva Amanã. Foto: Amanda Lelis
O animal é monitorado por todo o procedimento pela equipe de pesquisadores, veterinários e técnicos. Foto: Amanda Lelis
O animal é monitorado por todo o procedimento pela equipe de pesquisadores, veterinários e técnicos. Foto: Amanda Lelis


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Agronegócio não é agricultura!



Vejam o Blairo Maggi falando com “toda a convicção” que todos podem, sem receio de colocar em risco a sua saúde, consumir os produtos do agronegócio: “carnes, grãos, algodão...”. Assim a mentira norteia a prática e a “ética” dos agronegociantes. Há mais de vinte anos minha esposa, Doroti Alice, questionava os agricultores do Sindicato dos Agricultores Rurais do município de Presidente Figueiredo (AM) que se diziam produtores rurais: “Vocês não são produtores rurais, vocês são agricultores”.

Assistimos permanentemente em nosso país a uma ostensiva confusão, mentira e pressão do governo e da mídia, contra os agricultores, contra a Agricultura Familiar e a favor do agronegócio ao ponto deste usurpar o Ministério da Agricultura. O que o governo sustenta como Ministério da Agricultura nada mais é do que o Ministério do Agronegócio ou o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que sustenta governos e empresas, mas não sustenta pessoas humanas e nem faz ciência agrária.

O atual Ministério do Desenvolvimento Agrário é em verdade o Ministério da Agricultura. O Blairo Maggi nunca foi agricultor. Sempre foi e é agronegociante. É um “produtor rural” e seus peões também. O processo de produção do agronegociante já vem pronto dos gabinetes urbanos ou da EMBRAPA. Ninguém cultiva a terra. Ela é mero sustentáculo de um negócio. Para garantir o negócio a terra pode ser arrasada em sua biodiversidade e envenenada. A sua razão de ser é garantir o “negócio”. Não sustenta pessoas. Nem seu dono come o que colhe da terra arrasada e envenenada.

Produtor rural é a pessoa a serviço do agro-negócio. Produtores rurais são pessoas “des-envolvidas” da terra e envolvidas pela máquina. A terra perdeu o seu significado primeiro, para se tornar apenas meio de acumular dinheiro ou sustentar corruptos.  A pessoa vale pelo que produz ou pelo que sugere para melhorar o empenho dos diferentes equipamentos e engrenagens das máquinas que administram e coordenam o agro-negócio. Não cria e nem faz ciência. Reduz a variedade das sementes, a biodiversidade, fonte da ciência agrária. As poucas sementes que aceita, domina com egoísmo. Detona tudo a sua volta para plantar o que é solicitado pelo mercado, pelo dinheiro. O produtor rural perdeu a noção da vida.

O agronegócio sempre foi, é e será mau para a humanidade. O agronegócio é um penduricalho dos bancos e de governos voltados para a cidade. Nunca formou homens independentes e autônomos. Toda a crise de banco (sistema financeiro) tem como consequência imediata a crise do agronegócio.

Além dos seus efeitos nocivos sobre a terra, é um ralo por onde passam anualmente bilhões de reais, com que o governo financia a depredação, a contaminação da mãe-terra e a corrupção. O produto que sai do agronegócio não é recomendável para consumo humano. Seria um castigo impor a um agronegociante consumir o que produz. Além disso, nenhum peão realiza sua vida ali. É um explorado inerente.

Em 1990, enquanto participava do Tribunal dos Povos em Paris, a família aqui em Presidente Figueiredo acolheu 18 nordestinos escravos, fugidos da Jayoro. A Jayoro é um projeto de plantio e beneficiamento de cana de açúcar da Coca-Cola. Fica a 13 quilômetros daqui. Iniciou aniquilando uma enorme extensão de floresta amazônica, com milhares de espécies da vida nativa. Após o desastre ecológico, “tortura” a terra com máquinas até que aceite receber a cana-de-açúcar, uma espécie exótica que produz para a exportação. E para que nenhuma gramínea: quebra-pedra, capim-estrela, gervão ou outra qualquer, ouse levantar sua “cabecinha” em meio a aquele deserto, a Mãe-terra é “esterilizada” com agroquímicos.

O processo de “esterilização” e de contaminação da terra acompanha todo o plantio, o crescimento e, não raro, até a colheita. As pessoas pouco valem. Cada semana um trabalhador intoxicado por venenos vem procurar socorro na cidade. E se o caso é grave, a empresa os descartam, ficando dependentes dos familiares e amig@s. As consequências vão além. O rio Urubuí que passa pela cidade também sofre as consequências. As águas da Corredeira, quase dentro da cidade, onde milhares de pessoas se banham semanalmente, estão envenenadas pelo vinhoto que sai dos domínios da empresa para os igarapés que deságuam no rio Urubuí.
Quando visitei há poucos anos a minha terra natal, Feliz (RS), presenciei ali, com tristeza, a prática do agro-negócio. Filhos de agricultores de ontem viraram “produtores rurais”, produzindo o que o agronegócio lhes impõe: frangos, tomate, morango. “Des-envolveram-se” da mãe-terra e até da ética tradicional de seus antepassados, para se envolverem com o agro-negócio, fora do seu domínio. Produzem bens de consumo que eles mesmos não tem coragem de consumir.

Encontrei produtores rurais que plantam tomate para seu consumo em horta separada do tomatal envenenado, criam frangos para o seu consumo familiar separado da “fábrica” de frangos que administram para seus donos que os vendem para consumo humano. É amplamente conhecido o caso dos produtores de fumo de Venâncio Aires e municípios vizinhos, onde os agrotóxicos envenenam as cabeças dos produtores ao ponto de provocarem o suicídio.

Não podemos confundir agronegócio com o que sempre praticaram os povos indígenas nas Américas, nem com a ciência dos pequenos agricultores tradicionais do mundo inteiro ou com a agricultura familiar, todas voltadas para a policultura, para as necessidades reais e o bem-viver das pessoas, das famílias, das comunidades e até de um Estado sadio.

A história oficial apresenta, em geral, as sociedades indígenas apenas como coletoras e caçadoras. Os povos indígenas foram, sobretudo, excelentes agricultores, tendo praticado uma agricultura adaptada e autossustentável para as diferentes regiões e situações das terras brasileiras e com uma visão infinita da terra. Com esta visão diante de nossos olhos, incentivamos aqui uma agricultura integrada: frutas, tubérculos, abelhas e pequenos animais. Uma agricultura autossustentável e que recupera áreas alteradas por sistemas anteriores e cultiva a floresta sem alterá-la ou destruí-la. Modelo que denominamos “Floresta de Alimentos” e que propicia às famílias de agricultores e às comunidades indígenas abundância para seus lares e excedentes para a troca e comercialização.

O agricultor faz cultura e ciência na mãe-terra. Estuda a natureza na sua variedade. Se “envolve” com a terra. Dela retira primeiro a fartura para sua mesa. O excedente troca ou vende com seus vizinh@s, amig@s, ou até exporta. Mesmo valendo-se de máquinas e equipamentos, a agricultura está sempre sob o domínio das pessoas humanas. Agricultor é o sábio da mãe-terra. Ele se move com a curiosidade de um cientista no meio deste “Jardim do Éden” onde tudo e toda a vida tem o seu valor. Ele transforma, cria variedades novas. Se alegra em transferir gratuitamente as suas descobertas aos vizinhos, às comunidades vizinhas (frutos, sementes, mudas, técnicas). Foi assim, mediante a tal saber coletivo, que os povos indígenas das Américas criaram inúmeras variedades de alimentos. Muitas até hoje alimentam e colorem a Amazônia. Outras muitas, lamentavelmente, foram extintas devido aos preconceitos e às exigências do mercado do Norte, ou ainda, arrasadas pelas máquinas e pelos herbicidas do agronegócio.

Durante os últimos 70 anos a metade do país foi arrasada. Uma fortuna incalculável de biodiversidade irremediavelmente perdida! O sossego dos jovens de amanhã está na variedade de vida que a mãe-terra tão generosamente oferece, pois ali poderão aprofundar os seus conhecimentos e crescer em ciência perpetuamente. A metrópole tem um futuro limitado: carro, asfalto e plástico são efêmeros. Não tem futuro!

Das pessoas engajadas na mídia é importante, sim, ouvir reportagens-poesias sobre o “Velho Chico” ou sobre “Os catadores de Piqui de Minas Gerais”, como as que o Nelson Ribeiro do Globo Rural tem levado ao ar, mas precisamos principalmente do seu engajamento pela agricultura, pelos caminhos desta e de uma contundente crítica dos seus descaminhos. Em especial um engajamento contra o agronegócio destruidor da vida e exterminador do futuro da humanidade.


Continuem os governos saciando a fome dos famintos com cestas básicas de alimentos como o fez o governo Lula, mas que estas “cestas” não venham do agronegócio, com produtos contaminados por venenos. Que elas tenham o selo de garantia do agricultor que produz comida sadia sem o uso de venenos. O mercado contamina os produtos e a ciência. Não há entendimento entre agronegócio e agricultura, entre produtor rural e agricultor. O Estado, as instituições de pesquisa agrária e os bancos financiadores do agronegócio confundem propositadamente agricultura com agronegócio. Enquanto a agricultura familiar sustenta mais de 70% do povo brasileiro, o agronegócio não se preocupa sequer em alimentar pessoas.

http://www.cimi.org.br